Os Paulos do São Paulo
A vida é um punhado de fios desconectados, que se conectam com a energia do acaso, o vínculo sanguíneo e o time do coração que, quase sempre, é amor transmitido de geração em geração…
Essa história se inicia a partir de uma postagem em um grupo do WhatsApp, especificamente a partir de um vídeo, rememorando um trecho da partida entre São Paulo versus Universidad Católica, quando o zagueiro Válber saiu fintando os adversários dentro da área e abriu para o meio-campo e; na sequência, Zetti fez uma série de defesas antológicas.
Diante deste vídeo, comentei: “ – Caramba, boas lembranças”.
E o tricolor Paulo Roberto, o Peto, respondeu por áudio: “Ricardo, eu estava com meu pai neste dia, lá no Morumbi. Pqp, que saudade daquele ‘veio’, são-paulino, que saudade… Tô com saudade dos dois, do time e do meu pai, mas vamos em frente…”.
O senhor Wilson Vaz, o Caco, nos deixou em 14 de setembro de 2020.
A declaração de amor ao pai e ao clube de coração de Paulo Roberto me emocionou. E não hesito em dizer que chorei ao som daquelas palavras. Também recordei meu pai, outro são-paulino fanático, que faleceu em março do ano passado e foi enterrado com a bandeira do Tricolor. Aquele trecho de São Paulo versus Universidad Católica se expandiu em dezenas de imagens na minha memória, os jogos que eu também acompanhava com ele. A memória é inexplicável, porque, num átimo de tempo, a gente vai do homem ao menino como se fosse tudo um tempo só.
Que sentimentos são esses por um clube que nos fazem associar as memórias afetivas, escalando no campo das lembranças a imagem do pai com o clube do coração? Essa é uma das provas que futebol tabela com a vida, nos dá identidade e cria conexões para sempre.
Mas essa história não terminou com as lembranças dos pais.
Paulo Roberto, emendou: “A gente aqui, a minha família, a gente tem uma história muito louca. O meu pai… (pausa emocionado) o meu pai era sensacional… tá loco… Ele teve cinco filhos, ele era tão são-paulino que falava para minha mãe: ‘você escolhe o segundo nome, porque o primeiro é Paulo…”
E a mãe, Alice, rebatia: “Ah, Wilson, por quê?
O pai: “Por causa do São Paulo”…. rs… E minha mãe abraçava a ideia. Assim, o primeiro filho recebeu o nome de Paulo Eduardo; o segundo, de Paulo Ricardo… na terceira, veio a uma menina, então ficou Paula Alessandra; o quarto, Paulo Rodrigo; e eu, último, raspa do tacho, Paulo Roberto”.
Tem paixão maior que a do Sr. Wilson, colocando os nomes dos cinco filhos referindo-se ao clube do coração?
Se os dirigentes e os jogadores soubessem da imensa paixão que eles movem e o sentido que eles proporcionam em pequenos fragmentos de tempo, de 90 minutos… com certeza, não brincariam tanto com os sentimentos dos torcedores.