Lucão: “Gratidão por tudo o que o São Paulo proporcionou”
Com o contrato chegando no fim, Lucão fala sobre críticas da torcida, negociação com o rival, declaração polêmica, gratidão ao São Paulo e muito mais
O zagueiro, que está treinando separado no Tricolor, está prestes a encerrar o seu vínculo com o clube depois de 11 anos no Morumbi. A dúvida é se isso ocorrerá imediatamente ou após o término do contrato no próximo dia 3 de junho.
O zagueiro revelado na base viveu dos 12 aos atuais 23 anos no Tricolor, com uma escala de um ano em Portugal.
Ele falou sobre a negociação com o Corinthians, revela uma conversa com o técnico Fábio Carille, a declaração polêmica após o duelo com o Atlético-MG (em 2017) e gratidão ao clube que o revelou. Veja abaixo:
EMPRÉSTIMO PARA O ESTORIL, DE PORTUGAL
Foi um momento delicado. Não vivia um momento muito bom no clube com a torcida, estavam pegando no meu pé. A minha ida para lá foi… (pensativo) eu queria que fosse diferente. Essa é a verdade. Não posso pensar de outra forma. Gostaria de ter feito diferente no São Paulo, não pelas minhas atitudes, mas pelo todo. Infelizmente saí de uma forma que não gostaria de ter saído. Mas fui para lá e passei um ano. O Estoril me acolheu muito bem. Fiz poucas partidas, até por conta da minha lesão. Esse ano serviu de aprendizado, para pensar um pouco na vida, família e profissão. Valeu muito. Mas o fato de não ter jogado me atrapalhou pela lesão. Depois de um ano voltei do empréstimo e estava lesionado. Não consegui jogar, nem ser reintegrado ao grupo ou fazer um novo empréstimo até o contrato acabar. Vivi momentos bons lá. Foram poucas partidas, mas valeu a experiência.
Oito em um ano. Muito pouco, mas foi o que consegui fazer. Depois comecei a sentir as dores. Ia para o departamento médico, fazia fortalecimento e voltava ao campo. Tentava treinar dois ou três dias e depois não conseguia treinar. Não ia para o jogo. Fiquei praticamente nesse vai e volta entre DM e campo. Era uma dor muito chata. Se eu tivesse parado quando senti as primeiras dores, talvez não precisasse fazer cirurgia. Mas foi desgastando. Não foi uma artroscopia simples que fiz. Não consegui jogar mais até quando voltei do empréstimo.
RETORNO AO SÃO PAULO
Voltei no meio do ano passado, em junho. Foram sete meses desde que fiz a cirurgia. Para essa lesão normalmente a recuperação é de cinco a seis meses, mas fiquei sete porque teve uma época em que não conseguia ganhar força. É uma lesão chata, tem de esperar a perna responder.
ROTINA NO CLUBE
Tenho treinado com os fisioterapeutas. Na verdade separado. Faço fortalecimento pela manhã e durante a tarde vou ao campo. Faço trabalho físico e de fundamento, mas sozinho. Enquanto isso o meu empresário (Luciano Couto) está conversando com o São Paulo para resolver a minha situação e futuramente, não sei, decidirmos o que pode ser feito. Meu contrato termina agora em junho.
VAI FICAR ATÉ O FIM DO SEU CONTRATO OU SAIR ANTES?
Não sei. Na verdade é isso o que o meu empresário está conversando com São Paulo justamente para saber o que pode ser feito ou aguardar até o final do meu contrato.
SE ARREPENDE DA DECLARAÇÃO EM 2017 DEPOIS DO JOGO CONTRA O ATLÉTICO-MG? – (“para a alegria de muitos aí, já, já eu estou indo embora“)
Não me arrependo. Não pelo fato de ser… “ah, não me arrependo de nada do que falo, ou do que faça”. Não por isso. Mas porque na minha declaração eu não afetei ninguém. Se pegar a minha declaração realmente, e eu depois analisei e reanalisei a declaração: eu não xingo a torcida, diretoria, meus companheiros. Ninguém. Eu simplesmente digo que vou sair. Ponto. Mais? (risos), é aquela coisa que você sabe como é o futebol. As pessoas as vezes pegam uma palavrinha que você coloca ali e fazem algo gigantesco. É a famosa tempestade em copo d’água. Na minha visão foi isso.
Não agredi ninguém. Poderia ter sido menos. Essa é a verdade. Poderia ter passado. Também tomei uma multa por isso, enfim. Não me arrependo, mas também se tivesse outra oportunidade poderia ter falado algo diferente, a mesma coisa, enfim… isso é passado. Passou e ficou para trás. Também não guardo mágoa de jeito nenhum de nada: da torcida, do São Paulo, da instituição. Muito pelo contrário: tudo que tenho hoje é, primeiramente graças a Deus, e depois ao São Paulo. Cheguei com 12 anos e tudo o que pude proporcionar à minha família devo muito ao São Paulo. Vale frisar isso. É o mais importante. As coisas ruins, críticas… ficam no passado. É exaltar mesmo a instituição São Paulo que eu sempre vou ser muito grato.
NEGOCIAÇÃO COM O RIVAL
Na primeira vez eu estava jogando e a diretoria do Corinthians entrou em contato com o São Paulo. Estava jogando e vivendo um bom momento. Jogava eu e Rodrigo Caio. Naquele momento o São Paulo falou “não, não queremos saber de negociação”. E ficou por isso.
Dessa vez, estava voltando de lesão. O Corinthians procurou o meu empresário e o São Paulo, por um aval do Carille também. Cheguei a conversar com ele. Liguei para ele e ele me pediu, falou que queria que eu estivesse no elenco, que queria contar comigo, gostava do meu futebol, de como eu era e que iria acrescentar muito no elenco dele. Isso foi importante saber também. É um treinador que tenho hoje como referência, até porque jogou na posição que jogo. Então entende e sabe o que um zagueiro deve fazer. Tenho certeza que iria aprender muito com ele. Mas quem sabe futuramente ou numa outra oportunidade eventual possa acontecer no Corinthians ou em qualquer outro lugar. Mas por estar machucado, o Corinthians precisava ali no momento e decidiram não apostar naquela hora. Ficou por isso a negociação.
QUANTOS TREINADORES TEVE NO SÃO PAULO E QUAIS MARCARAM A SUA CARREIRA?
Foram oito treinadores em quatro anos. Os que marcaram mais foram Osório e Rogério Ceni. Pela forma de trabalho, método, filosofia do que pensa sobre futebol. Por estilo de jogo, estar com a bola, gostar de sair jogando sem chutão e trocar passes, esses dois se encaixam no que penso sobre futebol.
Mas também destaco o Muricy. Sem palavras como treinador. Não precisa provar nada. Ganhou tudo e tem uma história maravilhosa no São Paulo. Foi o treinador que me deu a chance de jogar quando muitos me achavam muito novo, com 17 anos. Tinham outras opções no elenco e falavam de improvisar outro jogador na posição por eu ser novo, e ele disse “não”. Bateu o pé e me colocou para jogar. Agradeço muito a ele. Foi o treinador que me deu a chance de mostrar meu futebol.
VAI TORCER PARA O SÃO PAULO NA FINAL DO PAULISTÃO?
Com certeza pelo São Paulo. Vou torcer muito como sempre. O grupo merece muito pelo que vem fazendo no dia a dia, o que estão mostrando. Estou vivendo esse mesmo ambiente. Eles merecem esse título, mas vai ser um grande jogo. Os dois lados têm qualidades, mas espero que o São Paulo saia campeão. Cotia é uma fábrica de fazer atletas. A minha torcida é mais ainda por eles: poder ver esses meninos serem campeões com o São Paulo que há tanto tempo não ganha um título, e um Paulista há mais tempo ainda. Eles ficarem marcados na história do clube vai ser uma felicidade muito grande.
CONTRATO COM O TRICOLOR ACABANDO
Sim, por agora está chegando. Não sei no dia de amanhã o que pode acontecer. Futebol muda muito rápido. Quem sabe futuramente eu possa voltar em outra situação, como outros voltaram, como Kaká. Lógico, saiu vendido, mas em situação semelhante a minha: vaiado, enfim… e tantos outros jogadores, para poder fazer diferente nessa próxima oportunidade.
SENTIMENTO QUE GUARDA DO SÃO PAULO
O São Paulo na minha vida sempre foi tudo. Sentimento de gratidão. Não falo da boca para fora. Tenho uma história no clube. São 11 anos, não são 11 dias. O sentimento é de gratidão por tudo o que o São Paulo proporcionou para mim e minha família. Jamais vou esquecer. Onde estiver vou levar o São Paulo comigo.
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