No São Paulo, tudo que parece em construção, já é ruína

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O que mais nos preocupa, é o patético futebol apresentado. O Tricolor é um time que faz a bola girar, mas não chega com perigo no gol adversário

Fora de tudo, o São Paulo é um time que desfruta de longas semanas cheias para treinar, treinar, treinar, porém, em campo, não apresenta uma evolução. Conceituando o desempenho, rodada após rodada, no São Paulo tudo parece em construção e já é ruína.

Dorival armou o São Paulo com Sidão, Militão, Arboleda, Rodrigo Caio e Júnior Tavares. Petros no meio, Hernanes, Lucas Fernandes, Marcos Guilherme, Cueva e Pratto.

O São Paulo foi mais do mesmo, fazendo a bola girar, mas sem profundidade. A síntese desse descompasso é que Pratto, o cara para colocar a bola para dentro, continua, desesperadamente, voltando para tentar ajudar na articulação de alguma jogada palpável. Mais bizarro que o futebol praticado, talvez só o uniforme.

Considerando o futebol praticado, o ano tricolor, o descompasso contra o rebaixamento, um empate no Rio de Janeiro, contra o Fluminense, seria um resultado ruim. Mas a ilusão durou até os 21 minutos, quando Júnior Tavares meteu o braço na bola, dentro da área, doando um pênalti para o Tricolor das Laranjeiras. Dourado bateu e converteu.
O gol sofrido desmontou o São Paulo. O Fluminense, apoiado pela sua torcida, aumentou a intensidade enquanto os paulistas tentavam compreender o tamanho da burrice de Tavares ao cometer um pênalti dentre os mais desnecessários do ano.

O colapso-pós-gol, que remonta uma constante que vinha se acabando do São Paulo, gerou consequências. Dois minutos depois, aos 23/1T, Rodrigo Caio foi disputar uma bola com Scarpa, saltou “meio de lado” e também sofrera um empurrão, não achou nada, a bola sobrou para o próprio Scarpa, que avançou com velocidade pela direita, cruzou na área para a chegada de Sornoza, que marcou com um belo arremate, sem chances para Sidão.

Não é exagero afirmar que aos 23 minutos do primeiro tempo, ¼ da partida, para o São Paulo, que se arrastava em campo, a partida poderia ter sido encerrada.

Com 2 a 0 na conta, o Tricolor Paulista bem que tentou algumas investidas na base da superação, mas o seu giro em si mesmo, o seu girar de passes que partem do nada e chegam a lugar algum, não poderia dar outro resultado a não ser o de não ameaçar a meta de Cavalieri.

Para quem assistiu à partida do São Paulo contra o Atlético Paranaense, no Pacaembu, em que os paulistas venceram por 2 a 1, o primeiro tempo foi no mesmo nível. Tentativas e mais tentativas para chegar ao gol, porém, sem efeito prático. A vitória contra o Atlético, o resultado final, não pode apagar que foi outra partida muito abaixo. O mesmo vale para o jogo contra o Sport e o Atlético Mineiro.

Não há evolução. A diferença, o que ainda está fazendo o São Paulo vencer é a raça, a superação e o apoio da torcida, fatores que para alguns, diante do medo do rebaixamento, preferem viver uma realidade imaginária, como os personagens de Gabo, em “Cem Anos de Solidão”, quando a doença da insônia atingiu o vilarejo, fazendo com que as pessoas ficassem anotando os conceitos e os significados em papéis, até chegar ao ponto do esquecimento total, em que o imaginário e a realidade se fundiram. Na cabeça de muitos torcedores está assim.

O segundo tempo chegou para o São Paulo com as cortinas semicerradas. Era como um espetáculo em que as falhas já comprometeram o andamento de uma peça burlesca. Para completar, Dorival tirou dois de seus principais jogadores: Cueva e Prato. Ainda que os dois não estivessem jogando bem, a questão é: colocar quem?

As entradas de Shailon, Thomaz e Maicosuel não alteraram a dinâmica do São Paulo, que continuou tentando chegar, mas sempre presa fácil dos adversários na última linha. A partida ainda reservaria um outro pênalti para o Fluminense, em empurrão de Arboleda, que estava bem na partida. Aos 39, Robinho converteu a penalidade e fechou a tampa do caixão.

Aos 43/2T, Shailon, numa tentativa de cruzamento em que a bola desviou, ainda achara um gol. O gol do São Paulo, considerando o todo da partida, talvez fosse melhor ter perdido por 3 a 0, tamanho acaso que nascera o gol, fruto de um desvio e não de uma jogada construída.

Com a derrota, o péssimo futebol apresentado e a possibilidade matemática de retornar à zona do rebaixamento, o São Paulo continua preso em seu mito de Sísifo, descrito por Albert Camus, carregando sua pedra no morro dos três pontos acima, e descendo posições abaixo entre uma rodada e outra.

Essa condição de carregar pedras durante toda temporada 2017 não é aleatória, mas consequência da falta de planejamento, de trocas constantes no elenco, de vendas de jogadores para cobrir má gestão financeira, de reposições tenebrosas de atletas, do absurdo de colocar um ídolo, que nunca treinara um time profissional, para comandar um clube três vezes campeão do mundo, por fazer tudo errado e ainda continuar com o nariz empinado, por estar carregando pedras rumos ao desfiladeiro e ficar gritando que “time grande não cai”.


Ricardo Flaitt é jornalista, blogueiro do Lance, onde escreve o Blog Crônicas do Morumbi. flaitt.ricardo@gmail.com


FOTO: Divulgação

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