EXCLUSIVO – Entrevista com Luís Demarco
Nosso colunista Ricardo Flaitt, em seu blog, entrevistou Luís Demarco, que nesta semana, foi pauta no São Paulo, após cobrança à gestão Leco
Os bastidores do São Paulo seguem fervilhando. O novo embate se estabelece entre o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, e o empresário e sócio do clube, Luís Roberto Demarco. As fagulhas viraram fogo a partir de dois artigos publicados no Folha de São Paulo, onde Demarco acusa o presidente do São Paulo em “A Tragédia Tricolor”, de não ser transparente em sua gestão do programa sócio torcedor, enquanto a resposta do presidente Leco veio com “O torcedor e o oportunista”, colocando em dúvida a contribuição de Demarco.
Ricardo Flaitt, através de seu blog, entrevistou Luís Roberto Demarco para aprofundar sobre o caso, que envolve prestação de serviços gratuita, programa sócio torcedor, entre outros.
Leia na íntegra a entrevista para o Blog Crônicas do Morumbi, de Ricardo Flaitt no site do Lance!
Ricardo: Qual sua relação com o SPFC?
Demarco – “Sou torcedor do São Paulo desde pequeno e sócio do clube há alguns anos. Fui ao clube duas vezes apenas e pago uma mensalidade familiar somente para ajudar o SPFC. Em 1997, fiz uma proposta para transformar o São Paulo em empresa. Reuni-me com Fernando Casal De Rey, Juvenal Juvêncio, Marcelo Portugal Gouvêa e Carlos Miguel Aidar, entre outros. O projeto parou porque diferente do modelo vigente na Europa, os clubes brasileiros desejam controlar a empresa, e isso torna muito difícil a participação de qualquer investidor já que o clube de futebol é uma instituição política.
Desde então, ajudei o São Paulo em diversas iniciativas, sempre sem nenhum ganho ou interesse paralelo. A última delas foi na gestão de Carlos Miguel Aidar quando propus ao São Paulo um novo modelo do Projeto Sócio Torcedor, que é o implementado atualmente. Fiz uma apresentação a toda a Diretoria com as sementes da moeda tricolor de fidelidade, das experiências inesquecíveis, dos diferentes planos por valor e por frequência, que acabaram sendo aperfeiçoados e implementados. Estive presente em todo o desenho desse plano e forneci gratuitamente o software de atendimento da empresa Orbium, líder brasileira no segmento, que foi utilizado por muito tempo até a gestão Leco destruir o Programa Sócio Torcedor do São Paulo. Acredito que, hoje, o São Paulo tenha cerca de 20 mil sócios torcedores pagantes e ativos na verdade, enquanto a gestão Leco apresenta um número de 155.639 no Futebol Melhor, o que não corresponde à realidade. E o detalhamento desses números é escondido até dos órgãos internos do SPFC”.
Em contrapartida, o presidente Leco, em artigo-resposta publicado no jornal Folha de São Paulo alega que você queria se beneficiar da instituição e cita o caso de prestação de serviços em que você cobrou, na Justiça, R$ 300 mil, sendo que, inicialmente, seria gratuito. Como explica o caso?
Demarco – “O presidente Leco não sabe o que diz. Provavelmente o artigo difamatório publicado por ele tenha sido preparado pelo seu filho jornalista, que não tem cargo no São Paulo, mas aparece sempre nos bastidores como uma eminência parda da gestão mais fracassada da história do clube. É uma peça típica da administração Leco, que uma vez exposta pelo que escrevi dois dias atrás (artigo “A Tragédia Tricolor”), em invés de defender a sua administração (talvez indefensável), ele se dedica a tentar desqualificar e difamar quem o enfrenta. Enviei o artigo aos meus advogados e pretendo processar o Sr. Leco pelos crimes contra a honra que cometeu.
Nunca cobrei nada do São Paulo na Justiça como Leco diz. Pelo contrário, foi o São Paulo que entrou na Justiça em virtude de uma cobrança de R$ 47 mil reais feitas pela Orbium, referente aos serviços prestados após o final de uma parceria com o clube pela mais absoluta omissão da Diretoria, personificadas no Sr. Márcio Aith e no Sr. Leco.
A Orbium fatura 20 milhões de reais e, gratuitamente, entregou ao São Paulo produtos e serviços que seus clientes pagam cerca de R$ 1,5 milhão. Como uma empresa com governança e com executivos e sócios que são cobrados pelos seus resultados e que não são são-paulinos, a empresa tem o direito de questionar gratuidades vigentes sem nenhuma contrapartida, a menos do meu interesse pessoal em ajudar o São Paulo. Por essa razão inclusive, ofereci formalmente em juízo ao São Paulo que pagaria pessoalmente a fatura de R$ 47 mil reais em nome do clube, desde que o Sr. Leco desse transparência aos números do Sócio Torcedor (Vide imagem anexa do processo judicial do São Paulo onde a Orbium figura como RÉ)”.
Você questiona o atual modelo de gestão do SPFC se concentra nas decisões de 240 conselheiros. Qual sua sugestão para melhorar a tomada de decisão no SP e voltarmos a vencer títulos?
Demarco – “Na verdade, a motivação do Sr. Leco e seus asseclas é exatamente desviar a atenção do problema maior que é a destruição do São Paulo Futebol Clube, promovida por eles. Não somente pela diretoria, mas pelo Conselho como instituição também. Veja que a deterioração do São Paulo é crescente, a diretoria é a mais incompetente que se tem notícia, os resultados são péssimos, mas o Conselho não faz nada. E não faz exatamente porque não interessa pessoalmente a maioria fazer, mesmo que o clube padeça com isso.
É óbvio que o Conselho do São Paulo tem grandes nomes, de grandes contribuidores à história do Clube. Isso é inegável. E eles devem ser homenageados, reverenciados e reconhecidos. Mas outra coisa é ser a peça chave no sistema político do SPFC. Os 240 Conselheiros elegem o Presidente. 160 deles são vitalícios. Ou seja, não existe a menor perspectiva de renovação no Tricolor.
Os outros grandes de São Paulo elegem seus presidentes diretamente pelos sócios. O São Paulo é o único que carrega ainda a eleição indireta porque ela interessa aos grupos atualmente no poder. Não existe oxigenação, é sempre mais do mesmo. E pior, é preciso apenas cooptar 121 pessoas para controlar toda a estrutura de poder do São Paulo, e a consequência disso são os ingressos distribuídos para conselheiros, os “aerolecos” levando conselheiros para passear na Argentina de graça, e outras coisas que são arquitetadas dentro do clube na tentativa de se angariar apoio político.
Minha sugestão é que a diretoria seja eleita pelo voto direto dos sócios e pelo voto de sócios torcedores qualificados pelo valor do plano (pelo menos metade da mensalidade do sócio do clube) e pelo tempo de plano (pelo menos três anos). Isso dentro do modelo atual de clube. Mas a crise que assusta o Sr. Leco pode ser uma oportunidade única de o São Paulo ser o primeiro clube brasileiro a virar uma empresa de futebol para valer, fora do controle do clube social como funcionam hoje a grande maioria dos clubes europeus. O clube social ficaria com 50% das ações, mas o controle estaria com investidores, que teriam uma diretoria efetivamente profissional e ações em bolsa que poderiam ser adquiridas pela torcida.
Avalio que o São Paulo poderia receber uma injeção de 1 bilhão de dólares se estruturasse esse modelo atraindo o interesse do mundo inteiro e obviamente fomentando uma nova administração com recursos para ganhar títulos por muitos e muitos anos. Isso, obviamente, só vai acontecer com uma imensa pressão da Sua Majestade, o Torcedor, porque é praticamente impossível que o Conselho, sozinho, abdique de seus privilégios pessoais, mesmo que isso se converta a favor do São Paulo Futebol Clube”.
Pela sua experiência no mundo corporativo como vê o formato dos clubes associativos? E porque você colocou, em seu artigo, o problema da idade avançada dos conselheiros como um entrave para melhorias?
Demarco – “O formato dos clubes associativos não funciona para a realidade milionária do futebol de hoje. O estatuto do São Paulo, por exemplo, que o Sr. Leco julga ser um “grande avanço” é completamente inadequado para uma instituição que fatura 500 milhões de reais por ano, mexe com contratos milionários e tem 18 milhões de clientes cativos: os São-paulinos.
O clube associativo é feito para o convívio nas piscinas e quadras esportivas. Nesse modelo o quadro de uma diretoria com 20 a 30 cargos, do vice, do adjunto, etc, funciona porque é inclusivo para satisfazer a vaidade das pessoas, sem que elas tenham efetivamente muita obrigação de trabalho e/ou cobranças. O Conselho em um clube associativo também funciona. Um local de homenagens e de encontro daqueles que contribuíram por tanto tempo para o clube. Mas o São Paulo Futebol não é um clube como Paineiras, Paulistano ou o Pinheiros que o Sr. Leco frequenta. É uma potência do futebol mundial que está sendo gerido e administrado de forma amadora e política, o que é inadequado.
O Sr. Leco fala de “profissionalização”, mas o que existe é uma remuneração (bastante alta) para a Diretoria, incluindo ele. Ele fala de resultados para demitir o jovem Jardine, mas os mesmo resultados ruins não podem demiti-lo porque ele foi eleito. Ou seja, não existe profissionalização alguma.
O São Paulo fez uma parceria com uma revenda BMW e, ao invés de criar programas com os Sócios Torcedores ou mesmo sortear o carro em um jogo, com 50 mil pessoas angariando recursos para o clube, se preferiu utilizar o carro para uso dos diretores, incluindo aí o presidente. Um absurdo! A Diretoria do São Paulo deveria andar de carro próprio, ou de Uber.
Obrigado por me dar a oportunidade de abordar o ponto da idade avançada que o Sr. Leco também procurou utilizar como peça difamatória em seu artigo. Não há nenhum preconceito contra o idoso por sugerir que seja adotado um limite de idade para funções executivas, como é feito em todas as empresas que conheço como é feito no próprio exército onde os generais após certa idade vão para a reserva, etc. Diga-me qual empresa do Brasil que tem um presidente de 81 anos que não seja o dono da empresa?
O problema do Sr. Leco e do Conselho é que, infelizmente, a confrontação dessa realidade não lhes interessa, porque suprime seus sonhos de poder. Dos 240 conselheiros do São Paulo, 160 são vitalícios. Naturalmente, como todo mundo, eles envelhecem a cada dia, mas continuam lá até morrerem. E desse grupo acaba saindo o presidente eleito. E ninguém se aposenta como em qualquer outro lugar. Diferentemente do que o Sr. Leco diz ao me ofender, eu vou sim envelhecer com dignidade. Se estiver vivo, aos 81 anos quero estar aposentado aproveitando o convívio de meus familiares, como a quase totalidade dos brasileiros, e vendo o São Paulo vencer jogos na TV e sendo campeão. É muito mais digno isso do que fazer como o Sr. Leco que privilegia a sua vaidade para dizer aos seus amigos do Pinheiros que é presidente do São Paulo, enquanto sua falta de capacidade e energia destrói a reputação e a esperança de 18 milhões de São-paulinos que veem o São Paulo menor a cada dia, no campo de jogo e fora dele.
E infelizmente, sem renovação, o Conselho do São Paulo continuará a produzir outros Srs. Leco, e o São Paulo outrora vencedor e exemplo de administração, se tornará cada vez mais um símbolo do atraso liderado por um grupo de velhos amigos que não querem nunca abdicar do poder.
Somente a torcida tricolor poderá mudar isso, pressionando pacificamente e insistentemente. O São Paulo vai mudar pela sua torcida, e não internamente pela sua política completamente falida”.
VALE DEIXAR CLARO QUE qualquer opinião contrário ou manifestação sobre a entrevista, será aceita e muito bem-vinda. Nosso site é um portal para a nação tricolor e um espaço democrático.
FOTO: Divulgação Blog Crônicas do Morumbi