Derrota para o Mirassol é a síntese do ciclo de decadência do São Paulo
São anos de obscuridade no São Paulo. A vergonha da vez é queda vexatória, em pleno Morumbi, para o Mirassol que, sofrendo a crise da pandemia, montou um time às pressas para enfrentar a fase mata-mata do Paulista 2020
O resumo da tragédia tricolor na partida de ontem pode ser resumida nos gols do Mirassol: um com o atacante livre na pequena área, erro grosseiro de marcação; outro com a bola atravessando inteira a área, com Juan Fran com o freio de mão puxado chegando atrasado. Por fim, um bumba-meu-boi na área e a bola sobrando fácil para sacramentar a merecida vitória do Mirassol.
Considerando o contexto do Mirassol: elenco montado às pressas, atacante que estava treinando no clube e chamaram para jogar, a diferença econômica, a diferença de estrutura, etc… sem dúvida, de todas as vergonhas acumuladas desde 2008, essa derrota foi, como diz o amigo Roney Altieri, “o vexame dos vexames”.
Se pegar o salário de um jogador medalhão do São Paulo, com certeza, só os seus rendimentos cobrem toda folha salarial do Mirassol e ainda sobra. As distâncias são brutais. Não há nomenclatura moderna ou qualquer outra groselha da numeralha que inventaram nos últimos tempos para justificar o que aconteceu no Morumbi.
Entra ano, sai ano, monta-se elenco, desmonta-se elenco, e a verdade é que os textos poderiam ser copiados num eterno ciclo de destruição em Control C + Control V.
A impressão é que o São Paulo, quando venceu o Tigres na Sul-Americana em 2012, e o pau comeu solto no vestiário e os argentinos entraram no porrete a ponto de não voltarem para o segundo tempo, parece que ali o Tricolor nunca mais voltou à realidade. Parece que entrou em um vácuo do tempo em que esqueceu sua história, suas glórias, o peso de sua camisa…
O último trabalho minimente decente no São Paulo foi o de Diego Aguirre, que conseguiu a proeza de pegar um time bem limitado e mantê-lo oito rodadas na liderança do Brasileirão, até o vestiário tomar conta e estragar um trabalho que poderia render frutos. O Tricolor de Aguirre jogava bem? Não, mas ali o uruguaio fazia o que dava com os ingredientes que tinha.
Muitos torcedores, de faixas etárias distintas, vivem à procura do São Paulo de Telê; outros, mais novos, vivenciaram o ciclo 2005 a 2008 quando o time conquistou brasileiros, Libertadores e Mundial, quando se auto intitularam SOBERANO.
Mas, a verdade, é que o São Paulo, há anos, é um clube em franca decadência, que se apequena, que não disputa mais nada, que sucumbe para adversários pequenos, acumulando poeira na sala de troféus, acumulando vergonhas inenarráveis…
Essa queda vertiginosa não se explica somente pela derrota para o Mirassol. É acúmulo de erros e mais erros ao longo de vários anos. Má formação de elencos, com jogadores decadentes ganhando aos tubos, técnicos questionáveis, brigas políticas, endividamento devido à falta de planejamento, tudo isso formando um ciclo destrutivo que parece não ter fim no São Paulo, um clube que ainda possui a terceira maior torcida do país.
O São Paulo, atualmente, pode ser explicado como uma pessoa que já teve muito dinheiro, muitas honrarias, mas que depois de perder tudo, ainda caminha pela cidade como se nada tivesse acontecido, criando uma realidade paralela como forma de subverter a realidade, sendo motivo de chacota…
*texto opinativo de Ricardo Flaitt
Foto: Divulgação