Conheça a trajetória difícil, mas vitoriosa de Ricardo Centurión
Do bairro pobre onde o meia do tricolor cresceu, na Argentina ao bairro nobre de São Paulo. Saiba mais sobre o argentino
Do violento bairro de Villa Luján em Avallaneda (Buenos Aires), até o CT da Barra Funda, onde ele treina diariamente com a camisa do São Paulo, muita coisa mudou no atacante de 22 anos. Centurión teve uma infância complicada, perdendo o pai e sempre caçado pelos rivais, desde os jogos nos campinhos do bairro.
Em recente entrevista publicada no jornal Clarín, da Argentina, Centurión disse que desde cedo se acostumou em ser alvo dos rivais.
– No meu bairro, costumo dizer que a primeira falta que sofri já foi na altura do peito. Exatamente por isso, me acostumei a dar um toque e saltar, porque sabia que vinha algo por baixo. O melhor dos jogos como esse é que você acaba fazendo a alegria de muitas pessoas – afirmou o jogador, que é uma espécie de malabarista da bola. São famosos seus vídeos postados no Youtube nos quais ele leva marcadores ao desespero com seus dribles.
+ RELEMBRE COMO FOI A CHEGADA DE CENTURIÓN NO TRICOLOR
Em Villa Luján bairro onde Centurión nasceu e cresceu as dificuldades enfrentadas pelos moradores são muitas. Casas de tijolos, ruas esburacadas e estreitas, pessoas com fisionomia bastante arredia.
Apesar da pouca idade, Ricardo tem personalidade de sobra. Quando adolescente, já estava na base do Racing quando aceitou tirar uma foto segurando uma arma – o que lhe trouxe problemas. Até hoje, tem de lidar com questionamentos sobre a imagem polêmica.
No clube de Avellaneda, muitas pessoas falaram com enorme carinho do atacante pelo ato do meia atacante ser uma boa pessoa. Cecilia Contarino, coordenadora e psicóloga da Casa Titta, entidade criada pelo Racing que cuida e dá suporte a jovens que ficam no clube após serem aprovados nas peneiras, contou que a timidez de Centurion não pode ser confundida com marra.
– Ele tem dificuldade com pessoas que não conhece. Aqui no Racing era querido por todos. As pessoas em São Paulo devem estar fazendo julgamento errado dele. O Centurión não é mascarado, ele só é tímido, tem muita dificuldade em se expressar – afirmou Cecilia Contarino,
Os que vêm de família mais humilde, como ele, contam com apoio psicológico quando chegam à Casa Titta. Centurión não dormia no clube, mas era figura constante durante as refeições. Os treinos eram realizados no centro que contém três campos, sala de musculação e refeitório. Estrutura que hoje atende aproximadamente 120 jogadores.
A família tem um capítulo muito importante na vida do jogador. O sonho de ser jogador de futebol só virou realidade por causa da avó, Yayá, que diariamente encarava duas viagens de ônibus só para ver o neto jogar no time do seu coração. Ela gosta tanto do clube que tem uma tatuagem do escudo do Racing nas suas costas.
Beatriz, a mãe, trabalhava quase que em tempo integral para conseguir criar a família. Ela foi faxineira de um hotel, depois virou costureira. Hoje, como o filho está bem de vida, ela ganhou uma loja de roupas femininas em Avellaneda. Inspirado por Maradona, cuja imagem está tatuada em sua perna esquerda, o gringo está pronto para recolocar o São Paulo nos eixos na temporada.
Em recente entrevista ao jornal Olé, o jogador deixou claro que a força que veio de dentro de casa foi fundamental para superar as dificuldades.
– Minha família é de ferro. Minha mãe nunca deixou faltar nada. Uma irmã está constituindo sua família, a outra trabalha vendendo gorros. Meu tio é funcionário de uma fábrica durante praticamente 24 horas. Nunca fui de reclamar de nada. Minha família sempre esteve junto nas fases boas como nas fases ruins – afirmou o jogador.
A preocupação com a família é tamanha que hoje os familiares não moram mais em Villa Luján. Como o jogador recebe no São Paulo praticamente cinco vezes mais o que ganhava no Racing, ele comprou um apartamento para a família em Avellaneda.
No grupo são-paulino, a adaptação está cada vez melhor. Do seu jeito mais reservado, Centurión já participa de algumas brincadeiras do grupo. Ela já foi vítima de pegadinhas de Luis Fabiano e conversa muito com Pato. Ele mora no mesmo condomínio do volante Souza e sempre consegue uma carona para ir e voltar do CT, já que ainda está se ambientando à nova cidade.
Se dentro de campo, a fase ainda não é a esperada, já que ele tem altos e baixos, fora das quatro linhas tudo vai tudo bem. Centurión é noivo da modelo Melody Parisi, com quem pretende se casar em 2016. Ela, inclusive, já foi ao estádio do Morumbi para vê-lo em ação. Os momentos de folga do casal são dedicados a receber os amigos da Argentina em casa ou a passeios em um shopping da zona sul de São Paulo.
Muricy Ramalho deverá deixar Centurión na reserva na partida contra o San Lorenzo, nesta quarta-feira, às 22h, em Buenos Aires, pela Taça Libertadores da América. Mas hoje, pode-se dizer que ele é uma espécie de 12º titular. Se precisar é só chamar.