Caio Ribeiro: “Espero que o SPFC tenha aprendido com seus erros”
Ex-centroavante e cria da base são-paulina, que tem quatro títulos com o manto sagrado, conversou com o SPFC Notícias sobre os assuntos do clube do Morumbi
Olá amigos tricolores!
A expectativa de um 2018 diferente para o São Paulo não está restrita aos torcedores. Ex-jogadores do clube seguem a mesma linha. É o caso do comentarista da TV Globo, Caio Ribeiro. Durante a passagem por Mirassol, no interior do Estado, para a participação na Caravana do Globo Esporte, o ex-camisa 9 do Tricolor bateu um papo exclusivo com o SPFC Notícias. Na conversa agradável teve quase de tudo. Histórias da Copinha, Seleção Brasileira, Raí, Ricardo Rocha, Lugano e muito mais. Para Caio, o São Paulo tem que voltar ser protagonista das competições que disputa e ele espera (isso mesmo, espera!) que a diretoria tenha aprendido com os erros do passado. Para isso, confia nos ídolos escalados para gerir o futebol nesta temporada. Confira na sequencia como foi o bate papo:
SPFC Notícias: O coração do Caio bate mais forte pelo São Paulo, Santos, Flamengo, Botafogo ou Napoli?
Caio Ribeiro: Eu falo que meu coração é napolitano porque tem menos rejeição [risos]. Eu sempre deixei as portas abertas por todos os lugares onde eu passei. Isso é um motivo de orgulho né, ter feito grandes amigos, de hoje poder frequentar os clubes e olhar olho no olho de todo mundo sem ter que baixar a cabeça. Eu acho que isso é o que fica na nossa profissão. Então eu tenho muito carinho, sou muito grato ao São Paulo porque foi quem me proporcionou realizar o sonho de ser jogador profissional. Mas passei por Santos, Flamengo, Fluminense, Grêmio, enfim, todos os lugares eu peguei uma ‘coisinha’ boa. Mas hoje meu coração é napolitano [risos novamente].
SPFCN: Hoje o Tricolorzinho está mandando bem na Copa SP de Futebol Júnior, você estava naquele time de 1993 (campeão pela primeira vez) e 94 (vice-campeão invicto). O que você pode falar sobre essa competição, o que você lembra?
CR: Fomos campeões em 93. Classificamos na ‘moedinha’ na primeira fase disputada em Rio Preto [nota: na 1ª fase da Copinha de 1993 São Paulo, Bahia, América de Rio Preto e Uberlândia-MG fizeram exatamente a mesma campanha, pontos, vitórias empates e derrotas, gols pró e contra exatamente iguais. No sorteio, Bahia e SP avançaram, América e Uberlândia ficaram de fora]. Foi o primeiro título do São Paulo e vice-campeão no ano seguinte, era pra gente ser bicampeão. Em 93 eu passo a fase inicial [titular] e na primeira partida da segunda fase desce o Catê que era mais velho e eu era o caçula da turma. Aí eu vou para o banco. Eu virei meio que o ‘talismã’, o xodó da turma. Eu entrava e fazia gol. E foi indo assim até a gente ser campeão contra o Corinthians naquele jogo histórico de 4 a 3 na final. No ano seguinte aconteceu a mesma coisa. Eu titular e aí desce o Guilherme [Alves, hoje técnico da Portuguesa], que também era mais velho. E aí a mesma coisa, ‘dança’ o mais novo e eu vou entrando nas partidas e decidindo. Então tinha uma aceitação muito legal. E cara, na final é 1 a 1 contra o Guarani, vai para os pênaltis. E antes na morte súbita [regulamento de 94 tinha prorrogação. Se alguém marcasse primeiro um gol, o jogo acabava] eu chuto uma bola que bate praticamente na parte de dentro da trave, passa atrás do Pitarelli [goleiro do Guarani] e sai do outro lado. Seria o gol do título, da minha consagração. Aí nos pênaltis eu iria bater o quinto, mas não precisou porque perdemos de 3 a 0 [Pitarelli defendeu as cobranças de Jamelli, Nem e Douglas].
SPFCN: Essa derrota nos pênaltis em 1994 e o time vice-campeão invicto após atropelar praticamente todos os adversários com algumas goleadas históricas (time chegou a fazer 7 a 0 no Volta Redonda-RJ, 5 a 2 no Inter-RS e 4 a 0 no Cerro Porteño-PAR, por exemplo) foi a maior decepção da sua carreira?
CR: Nem me fala. Time tava jogando pra caramba [em tom de lamento]. Olha [pensa um pouco]… Era início de carreira né. Era aquele último degrau antes de você chegar no profissional. E o fato da gente ser o atual campeão, de ter conquistado o primeiro título da história do São Paulo, isso nos encheu de confiança e diminuiu um pouquinho a frustração do segundo ano. Seria um bicampeonato, seria importante para todo mundo, mas eu não colocaria como a maior decepção. Foi uma decepção grande, foi uma frustração muito grande. Mas acho que a maior decepção da minha carreira talvez tenha sido não jogar as Olimpíadas de 2006. Todo mundo me pergunta ´pô, você não chegou a jogar uma Copa do Mundo’, mas talvez eu não tivesse condição. A concorrência era muito grande. Tinha Romário, Rivaldo, Ronaldo, Edmundo, Evair, Edilson, muito cara bom. Então eu não trato isso como uma decepção. Agora, nas Olimpíadas eu conquistei o direito no campo. Fiz toda a preparação, pré-olímpico, nós fomos campeões… Fui convocado e na época não fui liberado pela Inter de Milão. Então essa talvez tenha sido a grande decepção da minha carreira.
SPFCN: Falando do São Paulo. O que aconteceu em sua opinião com o Tricolor em 2017?
CR: Eu acho que o São Paulo não foi o ano passado. São Paulo vem de 8 anos já que precisa repensar o departamento de futebol. Talvez a grande mudança para essa temporada seja a chegada do Raí e do Ricardo Rocha. São dois ex-jogadores, são dois caras que pensam o futebol de uma maneira diferente do que a atual gestão, que vinha fazendo e desfazendo o time no meio do campeonato, revelando jogador e vendendo com um mês no time profissional, não dando tempo para ídolos como Rogério Ceni, queimando etapas… E aí você acaba expondo o cara que fez tanto pelo clube. Então eu acho que finalmente, eu espero né, não que eu ache, espero que o São Paulo tenha aprendido com os erros. Faz 9 anos que o São Paulo não conquista um título importante. Último título foi uma Sul Americana ainda na despedida do Lucas lá atrás. Então está na hora do São Paulo voltar a ser protagonista. Campeão ou não, eu acho que é um detalhe. É uma somatória de coisas que te leva a uma conquista. Agora você tem que entrar como protagonista. Você tem que entrar para brigar lá em cima. Tem que incomodar. Isso o São Paulo não tem feito e por isso o motivo das minhas críticas.
SPFCN: Para encerrar. O Lugano tem um convite para ser mais um membro da comissão técnica. Se ele aceitar o que você acha de tê-lo como um dos ‘caras’ lá?
CR: Eu acho muito legal. O Lugano tem uma ascendência sobre os atuais jogadores né, sobre o elenco. Ele tem uma coisa que a gente não pode perder no futebol com toda essa modernização, com essas novas arenas, com essa forma de tratar o futebol com um pouco mais de carinho – e tem que ser dessa maneira – mas o Lugano é um cara que tem alma. A derrota dói nele. O Lugano não é aquele cara que pega o dinheiro no fim do mês, vai para casa e está tudo bem não. Ele se entrega. Bem ou mal, eu não vou entrar na questão técnica, mas ele é um cara que vive intensamente a camisa, o clube que ele está representando. E isso é raro hoje em dia. Então ter o Lugano na sua comissão técnica fazendo esse elo entre diretoria e campo de futebol, podendo trazer uma palavra… E fora a aceitação que ele tem por parte do torcedor né. É um ídolo. Um cara que a torcida olha e se sente representada em campo.
* Formado no Tricolor, Caio Ribeiro jogou no profissional do São Paulo entre 1993 a 1995. No Morumbi conquistou 4 títulos: a citada Copa SP Jr de 1993 e, como profissional, a Supercopa da Libertadores 1993, a Recopa Sul-Americana de 1994 e a Copa Conmebol de 1994. Foram 90 jogos e 33 gols marcados com a camisa do Tricolor Paulista.
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