Campeão pelo Tricolor, Marcelinho Paraíba pendura as chuteiras
Aos 44 anos, o meia Marcelinho Paraíba encerrou a carreira no último domingo; jogador foi campeão por onde passou
O último ato de Marcelinho Paraíba como jogador profissional de futebol durou exatos 45 minutos. O experiente meia pendurou as chuteiras aos 44 anos de idade, sendo quase 30 de profissão.
Após passar por vários clubes no Brasil, como Flamengo, São Paulo e Grêmio, e se tornar ídolo na Alemanha e defender a Seleção Brasileira, Marcelinho Paraíba já não é mais um atleta na ativa.
Em Campina Grande, sua cidade natal, Marcelinho colocou um fim em sua carreira de sucesso. Dribles, gols e ótimas jogadas agora só serão vistos na TV e Internet.
Marcelinho Paraíba entrou em campo pela última vez num palco especial para ele e sua família. Especial porque o autor do primeiro gol marcado no Estádio Amigão, em Campina Grande, onde o meia encerrou neste domingo a sua carreira, foi justamente o seu pai, o ex-jogador Pedro Cangula. Isso aconteceu em 1975. Hoje, 45 anos depois, Marcelinho não marcou gol. Apenas se despediu. Em meio a muita emoção, mensagem da filha e lágrimas. E o agora também ex-jogador chorou no seu jogo derradeiro.
Marcelinho pendurou as chuteiras atuando pela Perilima, equipe que não figura sequer entre as principais da Paraíba, e jogando contra o CSP, time de pouca expressão da capital João Pessoa. O jogo teve um público de apenas 245 presentes, segundo borderô da Federação Paraibana de Futebol (FPF).
Os últimos passos
Ao chegar ao Amigão, o ainda jogador foi recebido calorosamente pela equipe que administra o estádio. Visivelmente emocionado, Marcelinho evitou conceder entrevistas. Foco total naquela que seria sua última atuação profissional. No vestiário, o clima era de um adeus com contornos alegres. Empolgado, ele comandou a roda de orações e vibrou na hora do grito final. “1, 2, 3, Perilima!” foi o que bradou antes de subir as escadas para o gramado.
Nas quatro linhas, Marcelinho Paraíba chamava a responsabilidade de iniciar as jogadas e, claro, comandou as bolas paradas, sua especialidade no decorrer dessa longeva trajetória. Rodou bem a bola e bateu com maestria na sua companheira de profissão, mas não teve nenhuma finalização perigosa ou assistência na medida para um companheiro. Sem o brilho de balançar as redes pela última vez, o meia não encerraria a carreira aos 90 minutos, como as partidas de futebol. Seria antes disso.
O camisa 10 jogou apenas 45 minutos. Caminhando em direção à placa que sinalizava a sua substituição, Marcelinho foi retirando a braçadeira de capitão enquanto ouvia os aplausos dos familiares que estavam nas arquibancadas junto aos poucos torcedores, de todos os jogadores da sua equipe e também dos adversários. Aquele menino, paraibano de Campina Grande, que realizou o sonho de jogar pela Seleção Brasileira, ultrapassou a linha lateral para ser substituído pela última vez.
Marcelinho Paraíba deu lugar a Lucas Silva, que, inclusive, marcou o gol da vitória da Perilima sobre o CSP — Foto: Raniery Soares / GloboEsporte.com
– Me despeço do futebol profissional. Fica minha gratidão a todos os clubes, que sempre me receberam bem. Só tenho a agradecer. Muito obrigado pelo carinho e por todo o apoio que me deram nesses anos todos. Procurei fazer o meu melhor dentro de campo – disse Marcelinho.
O craque paraibano também destacou dois ápices de sua carreira, durante a entrevista que concedeu ao sair do gramado, logo após a substituição.
“O mais importante é que realizei meu sonho como jogador, de chegar à Seleção Brasileira. E a coisa mais linda que fiz, não só por mim mas por todo o povo paraibano, foi levantar a camisa com “100% Paraíba”, e mostrar para o mundo inteiro que a Paraíba é um estado que merece todo respeito”, afirmou, com um tom de voz que misturava alegria emoção.
Homenagem
Ao som de “Conquistando o Impossível”, hino gospel da cantora Jamily, a homenagem a Marcelinho Paraíba começou durante o intervalo da partida. Uma das filhas do jogador leu uma mensagem emocionante para o pai. Foi aí que o craque não conseguiu conter a emoção e caiu em lágrimas.
A família do meia foi agraciada com 100 ingressos de cortesia para acompanhar de perto os instantes finais da sua carreira. Usando camisas com os dizeres “Para sempre nosso guerreiro”, os familiares fizeram uma festa particular nas arquibancadas quase vazias do Amigão.
Marcelinho Paraíba contou com a presença dos familiares em seu último jogo oficial — Foto: Raniery Soares / GloboEsporte.com
O adeus em casa
Campina Grande e o Amigão. O fim da carreira aconteceu onde tudo começou. No campo onde levantou dois títulos estaduais, Marcelinho Paraíba relatou emocionado a ligação que tem com o Estádio Ernani Sátyro.
“Tinha que ser aqui, onde tudo começou. Comecei no Campinense, bem novinho, disputando a final do Paraibano, onde fui campeão em 91 e 93. Agora estou encerrando uma carreira vitoriosa. As coisas passam muito rápido. Não imaginava que este dia ia chegar, mas chegou. Estou feliz e agora vamos dar início a uma nova carreira”, declarou o camisa 10.
Também Campina Grande, além do Campinense e da Perilima, Marcelinho defendeu as cores do Treze, arquirrival do Campinense. Conseguiu o apreço dos torcedores das duas maiores equipes da cidades, que protagonizam um dos maiores clássicos do interior do Brasil.
Novos rumos
Marcelinho agora vai continuar no futebol, ainda no gramado até, mas fora das quatro linhas. Ele aceitou o desafio e vai passar a atuar na comissão técnica da Perilima, sua atual equipe.
“Responsabilidade maior, muito grande. Quanto maior o cargo, maior a responsabilidade. Antes como jogador, minha preocupação era comigo, com a equipe, o conjunto, mas me preocupava em fazer minha função taticamente. Agora vamos cuidar de várias cabeças, temos que pensar que cada um tem uma maneira de pensar e temos que saber trabalhar com isso”, avaliou.
O relato do pai e do último técnico
Pai de Marcelinho Paraíba, Pedro Cangula também carrega um peso histórico do futebol paraibano. Vestindo a camisa do Campinense, ele foi o autor do primeiro gol no Estádio Amigão. Emocionado, ele agradeceu a todos pelo apoio à carreira do filho.
“É um prazer ele encerrar uma carreira dele de uma forma bonita, com a família toda ao lado dele. Principalmente o pai, que sou eu, e com o orgulho de ter feito o primeiro gol do Amigão há 45 anos. Ele tem história não só aqui, mas em todo o país. Obrigado a todos que divulgaram o nome e a história dele”, afirmou, com a voz embargada.
Ao lado do pai, também ex-jogador, Marcelinho Paraíba se emociona na despedida — Foto: Raniery Soares / GloboEsporte.com
Marcelinho no São Paulo
Após uma passagem pelo Rio Branco de Americana, entre 1995 e 1997, Marcelinho seguiu para o São Paulo, onde definitivamente ganhou projeção nacional sendo decisivo nos títulos Paulista de 1998 e 2000.
Em sua primeira passagem pelo Morumbi (1997-2000) foram 42 partidas 29 gols. Já na segunda, sem muita expressão (2010-2011) foram 32 jogos e apenas 5 gols.
Marcelinho esteve em campo na trágica derrota do São Paulo para o Cruzeiro na Copa do Brasil de 2000. Com seu gol, o Tricolor estava vencendo por 1 a 0 e sairia campeão com um empate, porém, o time do Morumbi sofreu a virada no fim do jogo e perdeu o título.
VALE LEMBRAR QUE Marcelinho foi muito importante na conquista do estadual daquele ano, quando marcou um os gols do empate em 2 a 2 com o Santos, na grande final do campeonato.
https://www.youtube.com/watch?v=A3MtHjVAWsQ
Resumindo suas passagens no São Paulo: 74 partidas, 34 gols e dois títulos.
Do Tricolor paulista, o meia-atacante foi direto para o futebol europeu, sendo contratado pelo Olympique de Marselhe, da França.