Ricardo Rocha expõe o cenário da diretoria enquanto esteve no clube

O dirigente contou bastidores de quando estava no clube, a forma como a oposição age em relação ao presidente  Leco e o tempo em que não pôde falar 

Parte da diretoria na temporada do ano passado, Ricardo Rocha saiu em dezembro do Tricolor, e sua saída teve como fator principal a ausência na reunião que culminou na demissão do técnico Diego Aguirre.

O antigo dirigente em entrevista para a Fox Sports, contou sobre a relação de amizade que tem com o diretor de futebol Raí, a forma como a oposição age em relação ao presidente  Leco, o tempo que não pôde falar, quais foram os grandes problemas que impediram o time de brigar mais forte pelo título brasileiro de 2018, e muito mais: Leia a entrevista na íntegra abaixo:

MOMENTO POLÍTICO

O problema é político, é o título que não vem, o que ameniza muita coisa. Isso interfere muito. Na realidade, o torcedor quer título. O torcedor do São Paulo acostumou com título. Então isso pesa. Não vêm títulos, não vêm resultados. E aí começa a ter problemas seríssimos. Acho que há uma impaciência do torcedor do São Paulo, com razão…mas todos os clubes atravessam seus momentos difíceis, e esse é o do São Paulo”. 

QUANTO QUE UM MAU MOMENTO POLÍTICO INTERFERE EM CAMPO?q

“Isso tem uma pressão enorme, principalmente em relação ao São Paulo. Quando o momento é ruim, o jogador sente, conhece a vida do clube. Pode falar que não, mas interferem essas coisas negativas do clube. Agora, eu estive lá por um ano e o São Paulo sempre cumpriu com tudo que combinou com todos os atletas. O São Paulo é um clube que sempre cumpriu com tudo para os atletas e os treinadores. Isso afetou, a parte política, e claro que não é bom, mas o São Paulo é um clube muito sério.

PORQUE MESMO COM NOMES DE REFERÊNCIA NA DIRETORIA O CLUBE NÃO ENGRENOU? 

Quando chegamos lá o São Paulo ficou no fundo do poço, lutando para não cair. Não ganhava clássico. Se pegar a época da gente, o único que não ganhamos foi contra o Palmeiras. Ganhamos do Santos, ganhamos do Corinthians, fazia 30 anos que não ganhava do Atlético-PR lá e ganhamos. Teve algumas conquistas. Mas isso foi muito pouco, por que o torcedor quer título, e ele acha que isso acontece de uma hora para outra. Alguns clubes como Corinthians, Grêmio, Palmeiras, tiveram que ir para a Segunda Divisão para ‘jogar uma bomba’ e melhorar. O São Paulo precisa disso? Eu acho que não. Acho que o torcedor tem que abraçar como tem abraçado.”

“Agora, acho que no passado a gente estava no caminho certo. Fiquei muito magoado com alguns torcedores de torcida organizada que falaram: ‘Ah, o Ricardo tem que sair. O que o Ricardo faz?’. O que eu sei é o grande respeito que eu tenho dos atletas. Meu relacionamento era com Raí, atletas e direção. E isso eu fiz. Tenho certeza que fiz. Não tenho medo nenhum de afirmar que a minha parte eu tentei fazer da melhor maneira possível. O São Paulo teve só um problema sério, que foi o problema com o Nene. Em um ano a gente não tem nenhum problema. É que quando o time cai de produção, as pessoas começam a falar coisas. ‘Ah, o Ricardo tem que falar’. Eu não tinha que falar, quem tinha que falar era o Raí. Só que antes eu dividia isso com ele.  Houve uma reunião, que fiquei sabendo, e disseram: ‘O Ricardo está falando muito, está aparecendo mais do que o Raí’. Eu não falei muito porque eu quis. Falava quando diziam para dar entrevista.”

“Mandaram recuar, fiquei quatro meses sem dar entrevista. Torcedor perguntava: ‘A porrada comendo e o que o Ricardo está fazendo?’. Então que eu fiz foi um trabalho com jogadores e comissão técnica. Procura saber com psicóloga, corpo médico, com os jogadores, como é que eles eram tratados por mim. Eu fazia o percurso todos os dias. Médico, fisioterapia, conversa com os garotos mais jovens. Minha função não era dar entrevista. Mas se precisasse, eu dava. Só que teve uma reunião e falaram: ‘Segura a onda e deixa o Raí falar’. Tudo bem, era funcionário do clube. Assim como foi a reunião do Aguirre, que eu não participei. Se você me perguntar até hoje quem estava nessa reunião, eu não sei as pessoas que estavam. Sei que o presidente e o Raí estavam, mas não sei quem mais.”

SAÍDA DE AGUIRRE E EFETIVAÇÃO DE JARDINE

“Tem uma coisa importante primeiro. Primeiro que o Aguirre foi um cara muito bom com a gente, muito leal. O São Paulo fez um jogo horroroso contra o Corinthians, um dos piores que eu vi. Mas a gente empatou. Antigamente ia lá e tomava de cinco, seis. E falta só cinco rodadas. Vou te falar de coração: eu tinha uma preocupação com o Raí. Foi isso que aconteceu. O Raí tinha prometido o que? Manter o treinador, mudar esse estilo do futebol brasileiro de ter mudanças. Quando ele me ligou e falou: ‘Olha, o Aguirre saiu’, eu pensei ‘meu Deus’. E ele tomou muita porrada. É claro, a gente está junto, eu estou com ele, confio nele. Se tivesse lá, eu falava: ‘Não faça isso. Faltam cinco rodadas, a equipe não está bem, mas segura. Por você“. 

“O Raí é um cara maravilhoso. É um cara bom…erra e acerta como todo mundo, mas é um cara maravilhoso. Torço para que as coisas caminhem bem. Acho que que o São Paulo está atravessando um mal momento, não está bem. Eu esperava uma melhora do São Paulo, pelas contratações que fizeram e pelo que já tinha lá. O São Paulo não contratou mal, mas a coisa ainda não funcionou.”

AINDA CONVERSA COM RAÍ? 

“Muito pouco. Eu sei que a cabeça dele não está legal, porque o time não está bem. Isso mexe com ele. Procuro ao mínimo falar com ele. Às vezes eu mando mensagem, ligo. Sei que ele está triste, está magoado por tudo que está acontecendo. Conheço o profissional que ele é, a pessoa que ele é, e torço para que as coisas caminhem bem para o São Paulo.”

O ambiente está muito conturbado. Ninguém é bobo. Vi o Vagner Mancini dizer uma coisa, que o time está sem confiança. E isso você vê, é um time sem confiança. Não passa essa confiança ao torcedor. Mas por mais que falem da direção, é a hora dos jogadores agora. Não estou isentando os diretores, todos têm culpa sim. Mas tem horas que os atletas têm de fazer isso. O São Paulo tem condição. Tem seus defeitos, precisa de algumas contratações. O São Paulo é muito grande, só que não pode viver disso. ‘Ah, o São Paulo é muito grande e a gente vai ser campeão’. Não, calma. Os títulos vão vir para o São Paulo. Pode ser esse ano, no ano que vem. Essa paciência ainda tem que ter. O São Paulo está construindo isso, e é por isso que eu esperava uma condição melhor esse ano quando vi algumas contratações. Mas não funcionou.

RAÍ ESTÁ ISOLADO NO CLUBE?

Acho que está isolado por alguns dirigentes, isso eu acredito. Falaram que teve uma reunião para tirar ele, eu até acredito. Mas o presidente gosta do Raí. Tem algumas pessoas ali e ele pode confiar, e ele sabe disso. Não que em outras ele não possa, mas se você falar que não tem pressão para derrubá-lo, é mentira. Mas o presidente gosta do Raí, e vai mantendo. Se fosse outro, poderia ter derrubado. Acho que o Leco está segurando ao máximo, e tem que segurar. É um cara honesto, trabalhador. Eu vi o que esse cara se entregou no ano que eu fiquei lá, é uma loucura. Agora, ele precisa de um cara que cuide dos jogadores junto com ele. Tenho certeza que cuidei da melhor maneira possível. Tem que ter uma pessoa no dia a dia mesmo”. 

ESSA FUNÇÃO PODERIA SER EXERCIDA PELO LUGANO? 

“Poderia ser, eu conversaria com ele. É um cara maravilhoso, que eu fiz uma amizade dentro do São Paulo. Eu tiraria ele da função de Relação Institucional e falaria: ‘Vem aqui para o clube’. Eu acho que ele tem um peso enorme.”

PRESSÃO GRANDE NO CLUBE, OS CONSELHEIROS ATRAPALHAM?

Claro que tem oposição no São Paulo. Uma minoria, mas tem. Estou falando pelo que li por vocês [imprensa]. Vocês não falaram que teve um grupo de conselheiros que foram lá no clube para tirar o Raí? E era verdade aquilo ali. Oposição vai existir, e principalmente quando não vem o resultado. O São Paulo é muito grande, e precisa cada vez se unir mais. Tem muita coisa de fora para dentro. Tem que dar um pouco de paz“. 

SÃO PAULO ESTÁ QUEIMANDO OS ÍDOLOS? 

O grande ídolo do São Paulo, e pode ser quem for, só tem uma maneira de mudar isso: chegar e ser campeão. Não adianta. Nossa campanha no Brasileirão do ano passado foi ruim? Não! Mas para o São Paulo, que sempre foi acostumado a ganhar, foi razoável. Mas ruim não foi não. O São Paulo, no primeiro turno, não cairia mais. Se não me engano nós fizemos 42 pontos. Então o clube já não cairia mais, e coisa que vinha patinando nos últimos anos. Nós não ganhamos, mas tinha que ver como é que faria para melhorar cada vez mais. Aí começa muito mal. É complicado. Aí você começa a buscar os ídolos”. 

“Qualquer um precisa de tempo, de paciência. Mas o torcedor está sem paciência, vai por mim. As contratações estão vindo, algumas dando certo, outras não. Isso tem machucado torcedor do São Paulo. Quando fui jogar no clube, quando me chamaram, eu queria jogar no São Paulo. Era meu sonho. O São Paulo era referência, e tem que voltar a ser. O São Paulo não é mais essa referência. Não é. Pelos problemas fora de campo, pelos problemas dentro de campo”. 

Eu espero que o Cuca venha, que tenha a liberdade. Tem que chegar nele e dizer: ‘Amigo, eu não tenho o dinheiro que outros clubes têm, mas o que é que você quer que eu possa te ajudar?‘. Porque depois cai na conta do treinador. ‘Qual são as condições que você precisa dentro do que eu posso pagar? Vamos ter humildade e fazer um bom trabalho’. É isso que eu penso de futebol. Nós estamos buscando muita referência no Palmeiras e no Flamengo, mas esses são clubes que têm dinheiro, que podem comprar e investir muito alto. Antes era o São Paulo, hoje não é mais. A gente começa a querer fazer conta, e nisso falta um pouco de humildade de quem faz o São Paulo e dos torcedores. Tem que colocar o pé no chão na hora de contratar. O São Paulo é grande e vai ser sempre.”

Foto: Divulgação

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